segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Jornalistas assessores sociais


Conflito. Esta é uma marca presente nas inúmeras discussões pretendidas sobre a polivalência do profissional jornalista tendo em vista a nova demanda de serviços de comunicação das comunidades sociais globalizadas. Entendido primeiramente como aquele que trabalha a serviço da sociedade, tomada aí em sua forma mais ampla e abrangente possível, o jornalista brasileiro se vê atualmente sobre um muro de indecisões.

Por um lado, foi, ao longo dos anos, academicamente orientado como aquele agente social capaz de interagir através da construção da informação como um bem público. Valores idealistas de imparcialidade e neutralidade compõem a essência do jornalismo como profissão. Por outro, observa hoje a crescente onda de oportunidades comunicacionais que exigem um trabalho informativo, a priori, unilateralizado: as assessorias de comunicação. O muro descreve, assim, a incompatibidade ética do exercício simultâneo de ambas as profissões.

É a partir destas explanações que verificamos a clara dualidade encarada por quem trabalha com comunicação informativa no Brasil, país onde a legislação competente é repleta de brechas que não delimitam satisfatoriamente a linha tênue definidora de ambas as catergorias profissionais. O jornalista brasileiro sofre conflitos subjetivos quanto à amplitude de sua esfera de atuação como profissional arraigado a compromissos sociais, universo caracterizador pleno de sua função laboral.

No Brasil, o Código de Ética do Jornalista, em seu Artigo 13º, afirma que “O jornalista deve evitar a divulgação dos fatos: a) Com interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas; b) De caráter mórbido e contrários ao seus valores humanos”. O mesmo instrumento de apoio profissional diz, em seu Artigo 10º, que o jornalista não pode: “ e) Exercer cobertura jornalística pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas ou privadas, onde seja funcionário, assessor ou empregado”. Pode-se verificar nos trechos a primazia por uma responsabilidade de caráter ético, justificada pela incompatibildade declarada do exercício mútuo das duas profissões aqui discutidas. A essência jornalística não é perdida, mereceu certo cuidado no Código citado, o qual, ainda que de forma tímida, atribuiu ao jornalista profissional o desempenho de assessorar uma instituição.

O jornalista de redação, aquele que investiga a sociedade, trabalha sempre na perpectiva da busca pela neutralidade em tudo o que noticia. Os fatos são relatados de maneira através da qual suas percepções subjetivas sejam amenizadas da melhor forma possível. Sabe-se, também, que a capacidade de ser imparcial é impossível, pois o jornalista é um cidadão e obedece a determinadas visões de mundo de acordo com seu universo particular. De modo semelhante, não esqueçamos a característica econômica do meio em que atua. São empresas jornalísticas, visam ao lucro assim como órgãos da esfera privada que empregam milhares de assessores de comunicação.

Um importante fator a ser mencionado neste momento é a capacidade funcional e social dos serviços elaborados estrategicamente pelos gestores da comunicação em órgãos empresarias, de estrutura explicitamente parcial. Os que atuam neste campo não deixam de ser profundos analistas do meio que os cerca, além de peças-chave na definição e construção da imagém pública da instituição que os abriga. Trouxeram contribuição. O aprofundamento do tema com o qual trabalham, a relevância social do setor em que atuam e a inserção de idéias extensivas para os jornalistas de redação são exemplos do quanto este ramo atua na imprensa diária.

Ainda que imparcialmente, a comunicação não deixa de ser realizada com qualidade e amplitude que abrangem e enriquecem os espaços dedicados à publicação de informações. Toca-se na essência da neutralidade jornalística, mas pensa-se numa qualidade produtiva que resulta em um ganho social. O muro de indecisões pode encontrar aí uma saída viável para os conflitos subjetivos incessantes. Como citado no Código de Ética, não é preciso abandonar a profissão de jornalista profissional para exercer a função de assessor. O que não se deve fazer é responder simultaneamente pelos dois cargos conflitantes.

De acordo com Chaparro, a notícia é hoje um dos bens mais valiosos do mercado mundial. O autor afirma que cerca de 95% do que a imprensa noticia todos os dias são conteúdos previamente programados por instituições interessadas ou revelações e discursos trabalhados por fontes organizadas. Daí a crescente relevância do papel difusor de quem lida com a comunicação, seja corporativa ou não. Jorge Duarte (2003) acredita que “submetido a exigências conflitantes, o jornalista assessor de imprensa foi capaz, no Brasil, de criar padrões de comportamento aceitáveis para um lado e para outro. A busca por credibilidade profissional e consciência tranqüila parece ter falado mais alto”.

Neste contexto moderno, o relevante é perceber o jornalismo como campo de atuação profissional onde todos os que o compõem podem ser constantemente beneficiados. O material que chega às redações pode oferecer mais subsídios aos repórteres e editores, as empresas assessoradas alcançam espaços na agenda pública após processo estrategicamente trabalhado, as pessoas usufruem de conteúdo consistente, interagem e assimilam informações fornecidas pelas diferentes partes deste conjunto de peças integrantes do processo de informação pública.

Desta forma, a sociedade passa a ser assessorada pelos profissionais da mídia. Direta ou indiretamente, os comunicadores prestam serviço a um público de escala mundial que diariamente demanda consumo informativo. Em assessorias ou nas redações, os jornalistas são os responsáveis pela circulação de dados e fatos, agendando, pautando e orientando cidadãos, famílias, empresários, estudantes, teóricos, gestores do Terceiro Setor, políticos, desempregados etc.

Se a comunicação for observada por esta perspectiva, o desconforto íntimo ocasionado pelo conflito ético poderia, assim, ser amenizado. O jornalista admitindo-se agente efetivamente social independente de onde atue seria já um bom caminho para o progresso legal dessas questões. A realiadade de uma definição exata para ambos os campos de atuação poderia fazer desse muro, quem sabe, coisa do passado.

Referências bibliográficas

CHAPARRO, Manuel Carlos. Bristol-Myers Squibb Brasil S.A. Fontes abertas: indicadores Bristol-Myers Squibb de relacionamento com a imprensa. São Paulo, s.d.

DUARTE, Jorge. Assessoria de Imprensa no Brasil. In: Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia: teoria e técnica. Jorge Duarte (Org.). 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética do Jornalista. Disponível em: http://www.fenaj.org.br/Leis/Codigo_de_Etica.htm

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. A tribo jornalística: uma comunidade interpretativa transnacional.Florianópolis: Insular, 2005.

4 comentários:

Mauricio Uchoa disse...

juju...
tô com preguiça de ler...
hehehe...

dah uma sacada nesse link...
http://ultimosegundo.ig.com.br/paginas/igeconomia/painel.html

tem bastante informação...
altas e baixas...
mais esse link eh soh p qdo começar a brincar...
=;-D~

Anônimo disse...

Acabo de descobrir o blog e amei!
Beijos.

JuHits disse...

Rsrsrs
Valeu, Maumau!!
Acho que só vai dar pra fazer isso em casa, já que esse PC daqui não colabora mesmo né...
Bjim!
=)

JuHits disse...

Erikinhaaaaaaaaa!
Que bom que tu gostou, mereço então um monte comments seus aqui!
=P

Bjão, linda!