domingo, 27 de agosto de 2006

Acho que a Zuzu foi mais do que aquilo

Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Ele já não pode mais cantar


Angélica de Chico Buarque foi mais capaz de gritar ao mundo a dor da mãe em desespero do que as imagens em movimento e os sons dirigidos por Sérgio Rezende. O filme "Zuzu Angel", lançado neste mês no circuito nacional, deixa a desejar para quem aguarda sentir o aperto no coração de uma mulher que perde um filho. E mais, o perde em situações de extrema gravidade. Stuart Angel Jones, até onde se sabe historicamente - e como a trama contou - foi torturado até a morte. Por causa daquela mesma coragem que sua mãe lhe atrelou durante conversa com membro da Anistia Internacional, a de dar a vida pela liberdade. A ela, atribuia-se a legitimidade. Afinal, era por que lhe restava lutar.

Ainda que se fale da bravura de uma brasileira, da injustiça militar, da luta jovem pela garantia do maior bem humano, o filme deixa longe o caráter emotivo. O trabalho de se relatar a história é de merecido reconhecimento, mas o teor afetivo termina em segundo plano. A obra é relevante documento histórico, até pedagógico, só falha na apreensão do sentimento do espectador. Figura número um quando se fala de cinema. Ele não foi privilegiado mesmo. O trailer é de poder impactante bem maior.

A fotografia não deixa de ser rica, os personagens estão bem retratados e as cenas de tortura chegam a chocar. Não é uma programação que se exclua da agenda, mas que apenas se prende com mais força aos detalhes técnicos. O roteiro é razoável, mas a fórmula escaldada de começar pelo fim também colabora no empobrecimento da história. Patrícia Pilar está linda, foi de acordo ao que tinha em mãos para executar. Daniel de Oliveira faz o militante enérgico. Leandra Leal o acompanha nessa linha. Não há como não remetê-los a "Cazuza".

"Zuzu Angel" é filme com caráter de relato. A história é narrada de acordo com a gravação que a estilista famosa fez questão de registrar para a posteridade. Válido para quem, de repente, está curioso para conhecer esse fato histórico brasileiro de uma mãe que ganhou uma canção de Chico Buarque. Dois bons atrativos para se querer saber quem é essa mulher.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Polética

Muniz Sodré, em debate sobre a possível elaboração de um único sindicato que abrangesse jornalistas e assessores de imprensa, se posiciona, antes de mais nada, a favor da ética. Concordei com tudinho que saiu da boca dele. Ninguém sabe se definir nesse bolo e as cabeças arcaicas que não querem compreender a comunicação corporativa dificultam ainda mais a divisão das fatias. Natureza política. A visão romântica do "jornalista de jornal" não acompanha mais o ritmo urbano. Que decepção eles não assumirem a realidade! Parece que ela só vem quando não existe outro rumo e é a única alternativa contra o desemprego.

Por que não aceitar a comunicação como um ótimo serviço (rico, estratégico, ideológico) que pode ser oferecido às empresas? Por que não tratá-la de forma tão digna quanto a do repórter ou do editor? A essência da neutralidade do jornalismo de redação, eminentemente social, pode até ser afetada nessa hora, o que não quer dizer que o assessor não detenha certos princípios em relação ao trabalho desenvolvido no âmbito particular, seja na esfera privada, pública ou no Terceiro Setor. Ele também segue uma conduta tanto quanto o contabilista ou o advgado.

Não esqueçamos ainda a utópica crença de que cobertura de jornal é prova da realidade. O fato está muito longe de ter sido o que você leu no jornal ou viu na TV. Os comunicadores não se atinam para sua percepção em cada termo escolhido na matéria transmitida. Século XXI e tem gente saindo da faculdade achando que alcança a imparcialidade. Ai ai... E a briga para o ângulo
da matéria mais favorável ao lado A ou ao B da história? "Jornalistas de jornal", atenção! Vocês trabalham em uma empresa e a censura não é apenas ética, mas principalmente econômica. Não se façam de desentendidos com os anunciantes que os sustentam. Peçam de vez quando licença ao egocentrismo que está a sua frente e tentem enxergar os atos da sociedade como eles são.

A comunicação é um bem social? Eu afirmaria que sim. Mas a forma como ela vem sido feita é preocupante. Aqui em Fortaleza é baixaria total na TV local no começo da tarde. Vergonhoso. Os impressos ainda tentam elevar a qualidade, às vezes conseguem, o que impede é a cultura política predominante. Por isso, volto ao Sodré e concordo quando ele fala na existência da ética somente quando ela vem atrelada à política. Privilégio de informações, relações por interesse, troca de favores, compra de serviços, má qualidade do que se transmite, patronato X salários medíocres (quando existem...). É coisa de hábito, sabe?

É por isso que sou Sodré, digo sim à POLÉTICA!!

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

A TV na linha de frente do combate eleitoral

Quem ainda não parou os olhos em frente à telinha na sala de casa para observar o show de promessas eleitorais está deixando de participar do processo de captação eleitoreira, uma guerrilha que acontece a cada dois anos. Os candidatos brasileiros já se apresentam ao público com todas as armas disponíveis e estratégias previamente definidas. Basta um pouco mais de atenção e até você, que não é um Duda Mendonça, pode decifrar algumas delas.

Um dos fatores que colaboram fortemente para o sucesso das campanhas via TV é a característica do indivíduo do nosso país, que, como de praxe, não tem consciência – e nem interesse – pelo conhecimento. Sim, saber mais sobre o comportamento humano e social e estudar as práticas de quem compõe a estrutura política brasileira já é um bom começo para a percepção dos dispositivos deles e, conseqüentemente, aumentar sua munição intelectual extremamente valiosa no momento decisório.

Aqui vai uma mãozinha para quem se interessa pela disputa. Primeiro, é preciso que se reconheça os mitos da autocompreensão. São eles: o da liberdade humana, que a define como a capacidade de adotar crenças e comportamentos autônomos, baseados mais em convicções do que em doutrinamentos ou emoções; o da racionalidade humana, que trata do caráter dual da pessoa e do constante conflito entre razão e emoção, sendo esta a grande definidora de nossas decisões; o da consciência, que atribui aos estímulos inconscientes a maioria das atitudes que tomamos no dia-a-dia e, por fim, o mito da percepção objetiva, o qual afirma que perceber é um trabalho seletivo e de interpretação, condicionado tanto por padrões culturais como por tendências pessoais de caráter sentimental.

Agora, imagine você assistindo ao horário eleitoral gratuito tendo em mente o mínimo desse conhecimento. Já conseguimos algum avanço, certo? Mas a empreitada pela defesa da nossa capacidade de decisão não pára aqui. Exemplos de como a mídia já foi utilizada a serviço do poderio político também contribuem para o nosso objetivo.

Joan Ferrés, em Televisão Subliminar, descreve várias situações, em diversos lugares do mundo, nas quais a televisão e as artimanhas publicitárias foram determinantes para a vitória dos candidatos mais coerentes com a tecnologia de abrangência massiva. A conclusão de que “as campanhas eleitorais foram transformando-se em verdadeiros festivais nos quais o espetáculo conta mais do que a ideologia, a paixão mais do que a reflexão, a emoção mais do que a argumentação” (pág. 182) indicou um dos princípios-chave do Estado espetáculo: o conhecimento das emoções que o líder despertará e seu conseqüente aproveitamento.

O autor continua e justifica o poderio da televisão afirmando que os falsos mitos “impedem a tomada de consciência da complexidade da experiência de ser telespectador e, em conseqüência, do extraordinário poder socializador da televisão, do alcance real de seus efeitos”. (págs. 14 e 15) Imagens na imprensa escrita e na TV da morte de um oficial guerrilheiro no Vietcongue foi o necessário para sensibilizar os americanos, os quais sabiam que milhares de pessoas morriam no combate. O impacto emocional mobilizou a opinião pública contra a guerra, algo que centenas de páginas escritas não haviam conseguido. Um exemplo da influência da potência emocional no ser humano.

Inevitavelmente, o discurso político torna-se cada vez mais próximo do discurso publicitário, e nós, sem a percepção de que somos consumidores das propostas sociais, cedemos continuamente à sedução da mídia. Imagem pura. Muito longe do convencimento, somos vitimados pela beleza e influência espetaculares que a telinha proporciona. Nas histórias do mundo, temos o ator Mikhoels orientando Stálin; o famoso Goebbels, doutor em filosofia e ministro da Propaganda na Alemanha nazista, o fazia com Hitler; o publicitário baiano do início do texto também leva o mérito pela conquista da presidência do Brasil pelo pobre operário nordestino que recorre atualmente ao Botox rumo à disputa eleitoral de 2006. Vida de político não é fácil, não; e sai caro!.

Com estas proposições, já se pode contar com um bom armamento contra as tentativas de burla do inimigo: a compreensão do discurso político encenado e a percepção dos fatores que o legitimam, como a identificação provocada no receptor que se mostra, então, crédulo às “propostas”. Não esqueçamos jamais das pesquisas de opinião, principal mecanismo legitimador. É para estes alvos que nossa munição deve apontar. O lema é: “Precaução máxima com o aparelho de TV”. Alerta sempre. Enfim, são apenas recomendações rápidas em defesa do nosso patrimônio intelectual e financeiro.

Por Juliana Sousa

A seguir, algumas marcas de Duda Mendonça no governo e no PT:

Festa da posse
Foi totalmente concebida pelo publicitário, desde os desenhos dos palcos na Esplanada dos Ministérios até a idéia de que o presidente Lula percorresse a Esplanada em carro aberto, passando no meio da multidão. Também foi registrada por sua equipe em película, para exibição posterior.
Custo divulgado: R$ 1,5 milhão (total da festa)

Fome Zero
Duda idealizou o nome do programa de segurança alimentar, a logomarca (prato com talheres dentro da bandeira do Brasil) e a campanha publicitária na TV, com o slogan “O Brasil que come ajudando o Brasil que tem fome”. O locutor é o mesmo da campanha.
Custo: R$ 3,5 milhões

Logomarca do governo
A palavra “Brasil” aparece em várias cores, com uma bandeira do país na letra “a”. Abaixo, aparece um subtítulo: “País de todos”. A marca é usada para identificar obras, sites, documentos e propagandas do governo.
Custo: segundo a Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), Duda não cobrou pelo trabalho.
Fonte: Revista Primeira Leitura

*Trocando de monitor:

Efeito Copa do Mundo: os acessos à internet caíram 70% durante os jogos do Brasil. Na televisão, a audiência quadruplicou.

Efeito horário eleitoral: 28% dos aparelhos de TV são desligados quando começa o programa eleitoral noturno. Os acessos à internet sobem 30% e as compras virtuais, 8%.

Fonte: Plug e Ibope.

Referências bibliográficas:
- FERRÉS, Joan. Televisão Subliminar: socializando através de comunicações despercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
- PRIMEIRA LEITURA, São Paulo: n. 17, jul. 2003. Mensal.
- VEJA. São Paulo: v. 1970, n. 33, ago. 2006. Semanal.

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Click, o filme



Em "Click", Adam Sandler é um arquiteto workaholic que se depara com um controle remoto universal e, detalhe, o tem sob seu poder, o que se pode considerar um verdadeiro perigo mundial! Interpretando Michael Newman, Sandler também produziu o filme que vem provocando - como sempre, no seu estilo - gargalhadas prolongadas da platéia. No elenco, ainda figuram o grande Christopher Walken e a bela Kate Beckinsale, que atua como a esposa do arquiteto trapalhão, pondo-o ainda numa posição mais hilária: "Como ela pôde se casar com ele?".

A obra chega a ser interessante se pensarmos nos pontos mais diversos que ela aborda. Apesar de ser uma comédia, o filme pensa o papel do pai na instituição social família. Depois de muito riso, a sala do cinema é tomada por uma onda emotiva e o silêncio paira evidenciando o toque interno que as cenas provocam. O diferente é que esse tipo de abordagem se inicia "sozinha", distante do humor. Quando Michael Newman quer ser sério, ninguém segura, o choro é inevitável. O mesmo vale para as gaitadas, como chamamos aqui.

Uma comédia leve sugerida para um domingo tranqüilo, daqueles seguidos de pizza e gostinho ruim da lembrança do dia seguinte: segunda-feira. =/
O que salva a sugestão são realmente as piadas idiotas e a velha fórmula emotiva que perdura "hasta hoy". Ah, sempre vale a pena rir e chorar com o Adam, né?! =)

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Creatione I



Esta foi a primeiríssima. Mãe de muitas que virão.
Éééé!!! Maumau e Juju na área, cumpade!

Sai da frente! Uhuuuuu!!!!
=)

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Scribere

Escrevi, escreveu. Um escrito.
Nós somos o tom da palavra do grito.
Risco leve que acalma o espírito.
A letra é válvula do mito infinito .

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Política de boa vizinhança


"Que não se preocupem os vizinhos do norte, que não pretendo exercer meu cargo até fazer 100 anos".
Fidel Castro, presidente de Cuba
Fidel entrega "temporariamente" o poder ao irmão Raúl depois de cirurgia provocada por aguda crise intestinal com prolongado sangramento, de acordo com os médicos. Informações sobre seu estado de saúde passam a ser "segredo de estado" só para os vizinhos do Norte não tomarem total conhecimento. Cubanos exilados festejam em Miami.
Nos últimos 47 anos, essa foi a primera vez que Fidel transferiu todos os seus poderes. No próximo dia 13, ele completa 80 anos. Os vizinhos do Norte desejam e até torcem pelo fim de sua era, o que definitivamente não querem é a tomada de um governo fraco, não querem entupir a Flórida de cubanos.
Na ilha que sobrevive à sua maneira, os presos são ditados pelo imperador. O que eles pensam? O que eles podem pensar? A luta foi linda, mas cadê a liberdade? Valeu a pena? Pra mim, pelo menos, é uma incógnita.