sábado, 16 de fevereiro de 2008

Onde os fracos não têm vez

Violência, muita tensão e pouco susto. Esse é um breve resumo de Onde os fracos não têm vez. Com oito indicações ao Oscar (entre elas, a de Melhor Filme), a trama parece não ter animando muito o público brasileiro. O ritmo lento e o ambiente árido trazem um vagar pesado para o transcurso da narrativa. A última meia hora é um bolo de desfechos indesejados (será que por isso não saímos felizes da sala de cinema?) que nos deixa com gigantes interrogações e suspeitas, inclusive com a da nossa própria capacidade de interpretação!

Não fosse o brilhante espanhol Javier Bardem (consagrado na telona após o mais que dramático Mar Adentro) e a interpretação que fez de um psicopata que mata como quem rói uma unha, o filme teria sido mesmo um marasmo por completo. Tommy Lee Jones e Woody Harrelson ainda provocam a curiosidade do cinéfilo pela expectativa de suas atuações, mas logo descobrimos que a frustração chega primeiro. Eles pouco aparecem e não têm muitas alternativas de dar o show particular.

Atenção merecida cabe a Josh Brolin. Através de uma entrevista, soube que implorou para ficar com o papel quando não tinha sido nem cotado pelos irmãos Coen. Com a lábia pertinente de um empresário, Brolin fez o teste e conseguiu a chance de interpretar Llewelyn Moss. Ele afirma que foi um dos trabalhos mais difíceis que já fez, pois o personagem é um homem calado e transmitia seu mundo muito mais através do comportamento do que por palavras.

Onde os fracos não têm vez é um filme para quem não se estressa e adora contemplar a fotografia no cinema. Excelentes perspectivas.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

"My man"


Uau!!! Adoro sair do cinema com a cabeça cheia de idéias para escrever aqui! O Gangster me proporcionou isso demais. Um negro que liderou a máfia americana durante a década de 70 teve sua história narrada na telona por uma perspectiva histórica repleta de emoção. Frank Lucas (Denzel Washignton) é, para mim, indubitavelmente um homem de respeito. Bem como considero os grandes chefes desse negócio.

A trama toda tem como linha de intenção exibir ao público o que Frank e um policial muito honesto (Russell Crowe), os quais foram "fuga" e "perseguição" mútua respectivamente durante maior parte da película, conseguiram após o esperado encontro. Três quartos dos policiais de Nova Iorque, responsáveis pelo combate às drogas no início dos anos 70, foram condenados por envolvimento com o narcotráfico*.

O mafioso, que traficava heroína pura direto de Bangcoc em aviões militares americanos (e vendia muito mais barato, o que o fez conquistar a clientela em peso e ser procurado por mestres italianos do ramo), foi preso e, como meio de reduzir sua pena, contribuiu com a polícia norte-americana quando indicou os policias corruptos que também lucravam com o comércio. Sem dúvida, estes eram os mais sujos na minha opinião, pois extorquiam por migalha e davam carteirada. Coisa baixa e pobre.

E mais: não tinham os valores que os homens poderosos e inteligentes têm: educação e respeito. Por terem isso, os mi e bilionários da máfia mundial não deixam de ser grandes e influentes. Na obra, há frases e cenas que contemplam bem essas características. O Gangster é um filme muito bom mesmo. Sem ser dramático, expõe uma realidade histórica e a vida de um homem íntegro que, como muitos outros, lucrou às custas da podridão humana. Frank Lucas era um homem de caráter**. "My man".

*Ex-agentes federais americanos processaram os produtores do filme por difamação. De acordo com o processo, que corre num tribunal de Manhattan, os ex-policiais querem uma indenização de US$ 55 milhões, o confisco imediato do filme e participação nos lucros da bilheteria. Até o dia 18 de janeiro, quando os policiais entraram com a ação, o filme havia arrecadado mais de US$ 130 milhões.

** O verdadeiro Frank Lucas acompanhou de perto as filmagens. Ele e Denzel interagiram bastante durante as gravações!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"A vaidade é definitivamente o meu pecado favorito"


Como quase sempre, necessito assistir a um bom filme repetidas vezes para chegar num nível mais adequado de análise. Advogado do Diabo foi um deles. Hoje, vendo a película pela terceira vez, percebi conexões incríveis e não posso mais negar a gigante admiração por Taylor Hackford, que é, sem dúvidas, um grande diretor.

O filme já tem mais de dez anos, mas minha intimidade com o Direito só tem algumas semanas. E, poxa! Como isso já foi o bastante para associar esse tema à rotina social humana! Além de religião e lei. Precisa-se de uma mente muito fera para linkar tão bem esses aspectos. O filme fala de ego, pecado, poder, julgamento, família, Igreja, lei, instinto, culpa, punição, Deus e o diabo. Poderia me remeter a inúmeras cenas (inclusive a que sempre me fascinou, quando Al Pacino descreve a "função" do pescoço para a alma e a intelectualidade femininas. Demais!), mas basta uma das últimas para significar a obra toda.

O grande discurso do diabo, ao se revelar no filme, é realmente pertinente para a vida humana e muito mais convincente para a realidade do que o que se prega na chamada "casa de Deus". Ele, que acompanhou o nascimento de tudo desde o início dos tempos, diz que o Século XX foi seu, e não foi mesmo? Duas grandes guerras que abalaram o mundo, os efeitos de uma bomba atômica e um cara chamado Hitler podem servir de exemplo. Deus interveio? E quando ri da ironia divina? Ganhamos vontades do corpo, mas, com elas, a proibição de usufruí-las. Ah! E um fardo imenso chamado culpa caso tivermos coragem de experimentar. Falamos de verdade interior e sentimento, mas nada como aquele afago no ego. Um intérprete de peso afirmar que o amor foi superestimado é algo artístico mesmo. O cinema não é uma indústria que fatura à toa.

E quando é indagado sobre as leis? Por que o diabo tem um empreendimento que mexe com a justiça? Ora, essa é a máquina legítima do poder através da qual se manipulam os passantes sonhadores, os quais acreditam fielmente no poder adquirido e se alimentam da vaidade que os revela como homens (aqui, nunca associados à figura celeste, que é só pureza e bondade). Mais uma vez, Dostoievski vem à mente e vou me referir aos crimes e castigos. As punições humanas e divinas não foram suficientes para vencer esse forte instinto de querer mais, de ser mais, de sentir. Essência. Por que não assumir logo? (Nietzsche, agora é só você!).

No mundo do Direito, aprendo sobre poderes, princípios, atos, discricionariedade e legalidade. Hoje, especificamente, aprendi que o ato do juiz não é discricionário, pois ele é "tomado pelo convencimento". Vejam só que bela saída para nos distanciarmos da possível falha da pessoa ao julgar (neutralidade inalcançável neste plano) e como se desvia o grande fator de decisão para o advogado e sua capacidade discursiva (quase aquele kairós dos gregos, lembra?). Tudo fruto do homem: o ato comunicativo, a definição do que é errado, as punições, a idéia do livre arbítrio, a figura do juiz etc. Quem, de verdade, tem competência plena para julgar? O personagem de Al Pacino, sem perder a vaidade, talvez possa responder com mais propriedade essa questão.