Que Sean Penn é um mestre em interpretação todo mundo tá cansado de saber. Mas reafirmar isso com tanta categoria só mesmo assistindo a "Millk", o filme que levou às suas mãos ontem à noite a estatueta do Oscar de Melhor Ator. A sensibilidade e a plasticidade que adotou para encarnar Harvey Milk, o primeiro político homossexual eleito nos EUA, foram determinantes.
Além das questões políticas, sociais e de poder que o filme traz, não podemos deixar de lado a grande faceta que justifica o prêmio: transmitir a incrível força gay.
É difícil compreender e aceitar essa forma no mundo ocidental. Priorizamos o intelecto e a racionalidade como méritos humanos. Mal sabemos que a grande possibilidade da vida está concentrada nas relações afetivas, seja com que for. Este é o conteúdo. E ser gay é dar valor ao sentimento, ao amor de que somos feitos e que nos une nesse mundo afora. Esta é a mensagem da qual não podemos fugir: a força é a da prática do amor.
O cinema, que usa o seu alto poder ideológico para manipular, nos é útil quando (re)produz histórias verídicas como a de Millk. Se quisermos, podemos até acreditar num cunho educativo. Sim, pois retratar aqueles fatos, tão marcantes para a comunidade homossexual americana da década de 70, é reviver o começo de uma luta. É instalar essa incrível força contra o preconceito na memória coletiva, que a terá como o pontapé inicial para as lutas que seguem. Afinal, o futuro é sempre resultado da projeção de algo por que passamos. É o movimento que os une e os fortalece contra o preconceito.
Como o próprio Harvey Millk dizia: "Formamos uma força gay nacional".