sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O ano em que meus pais saíram de férias


Filme de 2006, ao qual ainda não tinha assistido. Depois de bons comentários de gente confiável - ou seja, de gosto bem semelhante ao meu (rsrsrs), resolvi dar um crédito à locadora nem um pingo confiável aqui pertinho de casa. Pois não é que o filminho estava lá?

Em dias mais introspectivos, nada melhor como sensação de vida que um bom efeito da arte sobre os sentidos já abalados. Logo no início, associei o protagonista várias vezes a Valentín, o garoto do filme argentino que faz sair lágrima até de pedra. Mauro é um menino forte, que teve de se virar à força sozinho num lugar estranho, longe de casa e de conhecidos. Viveu com judeus enquanto esperava os pais que estavam "de férias". O avô foi pontual demais enquanto o pai, atrasado ao extremo. E Mauro amadureceu dez anos nesse intervalo de meses durante o ano de 1970.

Copa e ditadura ilustravam o cenário daquele ano. Aquelas roupas clássicas, os carros, o clima de bairro. Tudo muito bem figurado pela equipe. Vale ressaltar a co-produção de Fernando Meireles e Daniel Filho, que trabalharam, mais uma vez, com atores não-profissionais, gente que não tá na mídia e ajuda a valorizar um filme pelo que ele realmente pretende ser. A fotografia e a trilha sonora não ficam para trás. O ano em que meus pais saíram de férias mereceu todos os prêmios que já ganhou e, certamente, está a nível do Oscar 2008, quando mostra um Brasil mais político, eclético, histórico e sensível; diferente dos morros e fuzis que temos exibido demais ao mundo como nossa única realidade.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O confronto


Ela chegou exausta e nem mesmo a batida da porta o fez piscar os olhos. Aqueles relatórios e aqueles prazos sempre mínimos o deixavam sempre à parte do universo dela. E Jack já agia assim há um bom tempo.

Ela passa e volta, tira os sapatos, senta no sofá espaçoso, comprado para dois, mas onde sempre só coube um. Solta os cabelos e um gemido de descanso. Mira a figura à sua frente e as torres de papel. Dorothy nunca gostou de papéis. Só conseguem ser acúmulo de lixo e passado. Ela concentra o olhar naquela imagem, absolutamente oposta ao que sempre quis naquele homem, que costumava rir e andar descalço. Levanta rápido e desmorona junto com as torres que acaba de implodir com as próprias mãos ao som de um "Pára!" e submerge nas ondas da banheira.

Nua, sente o frio em cada poro, mistura-se à água cheia dela, prende um pouco a respiração. Não era para ser assim, pensa e pede. O mundo foi injusto com Dorothy porque a fez entrar em seu próprio enigma. A não-garantia explícita à qual tantos se jogam sem medo. Mas o medo foi sempre seu grande amigo, o melhor refúgio para as oportunidades mais ousadas. Só mesmo Jack e os seus sorrisos para dar vez a um "sim". O mundo, aliado ao tempo, não deu tréguas ao rapaz, que preferiu cumprir obrigações a sonhar.

Ela, no universo paralelo somente seu, viaja nos pensamentos, nos sonhos mais impossíveis e, ao mesmo tempo, tão reais quando vividos ainda que como sonhos. Imagina dias lindos, chão de nuvens, asas de anjo e vôos rasantes, num mix louco de encontro da realidade com a fantasia. O coração acelera e ela já sorri sem perceber. A banheira é um oceano verde e seus cabelos se movem no ritmo das ondas. Isto sim é vida! Todos os sentidos à prova, liberdade, prazer, imensidade, infinito belo...
Jack entra no quarto e prepara-se para dormir:
- "Está aí?"
- "Não". Responde como um lapso, sem interromper a viagem.
- "Tudo bem, amanhã vou correr".

O vôo é acelerado, Dorothy percorre o mundo e vê as cidades sob seu corpo flutuante, os homens parecem bonequinhos de madeira numa mini-aglomeração. Tudo é tão pequeno para o seu infinito. As construções são tão perecíveis para o seu imaterial. Um mergulho no Atlântico exibe outra imensidão, outras formas e ciclos num ambiente mais denso e mais pesado como o aquático, seu preferido. Dorothy é dona de tudo o que é possível e impossível. O mundo e o que não existe também são dela. Salta da água como um peixe numa velocidade estonteante, vai rumo a qualquer outra galáxia, segue o caminho das estrelas mais brilhantes e sente o vento forte deformando suas bochechas de um jeito engraçado, quando, de repente... O despertador!

Hora do medicamento do marido esquizofrênico. A realidade amarra Dorothy mais uma vez ao mundo injusto. Corta suas asas, destrói seus desejos, elimina seu universo. Ela implora mais vez: "Pára!".

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O homem do catolé


Sol queimando a pele, a cabeça, o tempo e a pressa. Chão rachando o pé, a sombra, o rio e a vida. Em cima e embaixo, o homem do catolé padece dos males externos, desse jeito de viver que, ainda que mais mate do que dê vida, é o jeito que "Deus quis". A paciência reina no espiríto que sabe ser o mais ágil quando a luta se anuncia. É a braveza camuflada de respeito.
A faca na cintura corta o mato que engole, descasca da fruta derradeira e elimina o inimigo que pode virar caça e uma janta farta ou mais um frouxo que não sabe viver na terra quente. O assunto é um só: onde nasce e morre a água, o que se planta e quando dá, a chuva traiçoeira e o calor miserável. O destino foi escrito e ninguém pergunta por quê. É assim e pronto.
Cruzando com esse homem, ele percebe que você não é dali, que a areia dele é estranha, que te bota no bolso em um minuto. Mas ele não é mau. O chapéu é só proteção, a mão grande e grossa é, mais uma vez, culpa da terra; a voz grosseira e o olhar penetrante são só o jeito de bicho, em que mais se espelharam para fazer o que de melhor sabem: sobreviver.
Mas jeito de bicho não combina com oferecer morada e comida pra desconhecido se arranchar. E nem de ficar em pé às 12h sob o céu do sertão explicando a situação do açude meio cheio ou das terras do vizinho que a queimada levou. Isso tem, no mínimo, um quê de socialização, de convivência, de noção do outro. Concluí que, no catolé, o homem é mais humano.

domingo, 7 de outubro de 2007

JuHits de cara nova

Mais consistente, cores fortes, mais intenso. Traços mais definidos, bordas e texturas densas. Mais diversão, espaço para enquetes, interatividade com notícias online e com muito mais links interessantes ao universo particular da autora. Sugestões e críticas já estão sendo aceitas!

Então, este é o novo look de JuHits, que continua trazendo o conteúdo do meu interior: cabeça, coração, pele, emoção, sensações. Um pouco da Juliana em palavras e texto.

Espero que aprovem!
Bjs!